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Um Corpo no Mundo – Entrevista com a cantora e compositora Luedji Luna

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Luedji Luna – Cantora e compositora, iniciei meus estudos em música na Escola Baiana de Canto Popular, fundada pela professora da Universidade Federal da Bahia, Ana Paula Albuquerque.
Natural de Salvador, sou co-fundadora do PALAVRA PRETA, mostra que reúne compositoras e poetisas pretas de todo o Brasil, cuja primeira edição ocorreu em sua cidade natal, e segunda edição em Brasília, no Festival Latinidades, maior festival de mulheres negras da América Latina.
Ainda em Salvador, fui membro do Bando Cumatê, coletivo engajado na pesquisa, difusão e fomento das manifestações artísticas tradicionais da cultura brasileira, onde participou da oficina “Alimacanta” de canto essencial – ministrada pela cantora e compositora argentina Mariana Pereiro – que traz uma abordagem holística ao canto, reunindo técnicas acadêmicas com elementos de Chi Kung e Yoga.
Desde 2011 venho me apresentando em recitais nos principais palcos de Salvador. Fui vencedora da etapa regional do Festival da Canção Francesa, realização da Aliança Francesa em 2013. No mesmo ano, cantei no espetáculo “Ponto Negro em Tela Branca” da Diretora Kléia Maquenda. Em 2014, em curta temporada no sudeste do país (Rio de Janeiro/ São Paulo), participei do Sarau Preto, um evento organizado por Mombaça Momba, cantor e compositor carioca, parceiro de artistas como Mart’nália, e cujo projeto visa o encontro de compositores e poetas afro-brasileiros com o objetivo de destacar, exaltar e revelar a produção litero-musical de compositores negros. Na mesma oportunidade, ainda no Rio de Janeiro, abri o show da cantoautora Teka Baluthy e suas convidadas Késia Estácio e Juliana Diniz no projeto “Foco MPB”.
Desde 2015, venho me apresentando em São Paulo. Participei do evento de moda “Casa de Criadores”, cantando no desfile do baiano Isaac Silva, e fiz apresentações em casas como Puxadinho da Praça, Kabul Bar, Bourbon Street, SESC Riberão Preto, SESC Interlagos, SESC Jundiaí, este último, junto com o cantor congolês Yannick Dellas, e Café Piu-Piu, onde realizei meu primeiro show na capital paulista: “Um Corpo No Mundo”.
Estou me preparando para o lançamento do meu primeiro disco que leva o mesmo nome do seu single, “Um Corpo no Mundo”. O trabalho foi contemplado em primeiro lugar com o Prêmio Afro, e terá produção de Sebastian Notini, músico sueco radicado na Bahia, também produtor dos dois últimos discos de Tiganá Santana, e o mais recente trabalho da também baiana Virgínia Rodrigues, o premiado “Mama Kalunga”.
Fabio Nunes – Projetos desenvolvidos
Luedji Luna – Palavra Preta- Mostra Nacional de Negras Autoras (2016) e o show Um Corpo no Mundo (2015)
Fabio Nunes – Um Corpo no Mundo
Luedji Luna – Um Corpo no Mundo é uma proposta para se pensar identidade, é um olhar sobre mim mesma a partir do contato, ainda que disperso, com os imigrantes africanos em São Paulo. O projeto se fundamenta na ideia do não pertencimento, do corpo que ocupa o espaço, mas não se identifica, e da necessidade de conexão com a ancestralidade.O álbum remete a travessia, o deslocamento, é a partir dessa noção que os arranjos foram pensados, é um disco fluído.

A banda de gravação foi formada pelo queniano Kato Change (guitarras), o paulista criado na Bahia e filho de congoleses François Muleka (violão), o cubano Aniel Somellian (baixo elétrico e acústico), o baiano Rudson Daniel de Salvador (percussão) e o sueco radicado na Bahia Sebastian Notini (percussão). Os arranjos foram pensados coletivamente, pois era importante que cada músico se sentisse parte do trabalho e não um simples executor. Essa junção resultou uma sonoridade sem fronteiras e de difícil definição. Um Corpo no Mundo é um disco do mundo.

Fabio Nunes – Existe hoje uma cena artística e intelectual de mulheres, negrxs e LGBT’s. Comente

Luedji Luna – Existe sim. Eu acredito que a internet hoje tem sido determinante nesse processo, tem havido uma produção muito grande de conteúdo para as redes sociais que acirram esses debates, e que estão tensionando a sociedade para além do meio virtual, e informando também – mas é preciso ressaltar que todos esses avanços são fruto de uma luta anterior dos movimentos sociais – eu acho que é nesse contexto, que artistas e intelectuais que têm direcionando seus trabalhos pra militância passaram a ter mais visibilidade.

Fabio Nunes – Pesquisa, difusão e fomento das manifestações artísticas tradicionais da cultura brasileira num país racista e elitista.
Luedji Luna – O Brasil é um país resistente, mas nós seguimos existindo!

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